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Eu me pegara, certa vez, afundada em pensamentos que iam e vinham como as ondas – dessas que molham os pés da alma sem pedir licença. Já me questionara tanto… Se eu não tivesse dito aquilo, se eu tivesse feito aquilo. Se eu tivesse feito diferente. Se eu tivesse me silenciado, ou agido com mais coragem. Mas, entre uma onda e outra, esquecera de me perguntar: e se uma força maior já tivesse traçado esse caminho antes mesmo que eu soubesse o que era caminhar? Talvez houvesse, sim, uma mão invisível conduzindo os ventos. E se o outro caminho – aquele que, por algum instante, lamentei não ter seguido – tivesse sido ainda mais árido? E se, ao enxergar, através da linha do tempo, o que poderia ter sido, o arrependimento viesse como maré brava, nos arrancando do chão? Ou será que cairíamos de joelhos, gratos, diante dessa força que rege tudo em silêncio?
Por vezes, imaginei que éramos deuses em provação, exilados temporariamente do Olimpo de nós mesmos. Seres em conflito constante com o ego, tentando ser mais essência do que máscara, mais alma do que desejo. E se estivermos completamente a sós nesse plano, e as pessoas que cruzam o nosso caminho – essas com quem criamos laço tão intensos – forem apenas fragmentos espelhados de nós mesmos? Nossos medos, nossas saudades, nossos afeto, nossos anseios, andando por aí em outros corpos?
As ondas vêm. As ondas vão. E no intervalo entre uma e outra, resta o pensamento: no que acreditamos quando ninguém nos observa? No que pensamos quando o silêncio pesa? Talvez a resposta nunca venha completa, mas desconfio que a dúvida também seja um dom divino. O dom de não se perder na certeza e seguir com humildade, a tarefa de ser – entre erros, acertos e a eternidade de uma escolha.
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